Até agora, a viagem de Bento XVI custou ao Brasil pelo menos R$ 20 milhões. Luxo causa mal-estar na IgrejaDo Estadão
[A vinda do número 1 tem a atenção dividida com as] novas 60 TVs de plasma da Basílica de Aparecida, o cálice em ouro, prata e bronze de R$ 3.500 da missa no Campo de Marte, as toalhas e os lençóis de marca bordados para Bento, a garrafa de vinho de R$ 350 no almoço papal, a cozinha do mosteiro que funcionará durante as 24 horas do dia para a comitiva do Vaticano, e as mais de 400 peças de porcelana francesa feitas exclusivamente para o visitante ilustre.
Dispara também o Bispo: ˙Tanta comida, tanta bebida, tanta renda, tanto luxo... Isso tudo é um contratestemunho. Vai contra o testemunho de Jesus Cristo, que nunca se deixou tratar como rei. Quando entrou num palácio, foi para ser chicoteado˙. D. Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás e conselheiro da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Do Ricardo Westin, no Estadão.
De costas para o FuturoDa Carta Capital
A grande maioria dos fiéis já não ouve a voz de Bento XVI, que, voltado para o passado, ignora as aflições causadas pelos problemas práticos da sociedade moderna. 86% não concordam com a proibição ao uso da camisinha e 51% são contra a condenação do ao aborto em qualquer circunstância, como quer a igreja. Da capa da Carta Capital.
A maior nação católica do mundo˙ que o alemão Ratzinger encontrará agora é bem diferente do visitado pela primeira vez pelo polonês Karol Wojtyla em 1980. Os brasileiros são menos católicos e aumentaram as divergências da população com a cúpula da Igreja em relação a temas controversos, como o aborto.
Da Paula Pacheco, na Carta Capital
Presença irrealDa Folha
[...] à medida que declina a crença no inferno, o poder das condenações doutrinárias ao sexo ou ao consumo tende a recalcar-se em uma gaveta longínqua do inconsciente. O que não significa, por certo, que todo passado pessoal e histórico de repressão ao sexo tenha se dissolvido no ar. Medo e culpa nessas questões fazem ainda parte de nossa cultura, e essas coisas não mudam rapidamente.
É nisso que o conservadorismo do papa acaba desempenhando um papel positivo. Sua clamorosa inatualidade serve para atrair, como um ímã, todas as pequenas aparas de ferro que ainda nos prendiam a um mundo de obscurantismo e repressão. Ficam com ele, e não conosco, o absurdo, o medo, o dogma e a culpa. Ele nos deixa mais leves, quanto mais pesado o seu passo. [...]
Do alto de uma estrutura burocrática, centralizada e gigantesca, o papa adquire uma presença menos efetiva, mais simbólica e irreal.
Do Marcelo Coelho, na Folha.