11.5.07

Ele cantou o joão-ninguém, nem velho nem moço, que vive sem ter vintém, mas vive a fumar charuto e nunca teve opinião. Num dos poemas mais líricos da poesia brasileira (˙Três Apitos˙), ele lembra a fábrica de tecidos instalada em sua Vila Isabel: ˙Você que atende ao apito de uma chaminé de barro porque não atende... [à] buzina do meu carro; quando a fábrica apita, faz reclame de você˙.

˙Último Desejo˙ tem uma jóia que lembra Manuel Bandeira: ˙Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não presto, que meu lar é um botequim, que eu arruinei sua vida, que eu não mereço a comida que você pagou pra mim˙. Ou esta outra jóia: ˙Não posso mudar minha massa de sangue, você pode crer, palmeira do mangue não vive na areia de Copacabana˙.

Hoje, Noel Rosa é reconhecido como um dos maiores compositores de todos os tempos, mas seu público não está nos escalões mais populares. É um autor erudito, consumido e interpretado pelas cultas gentes. O povão que se encantava com sua música e versos nos anos 30 mudou de gosto, absorvendo a produção heterogênea e paradoxalmente monótona de novos temas e ritmos.

Trecho do Cony, na Folha, sobre os 70 anos da morte do Noel.

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