31.5.07

Sucre, Bolívia, 2005.

Vê o ônibus parado. 3 da manhã. Bate na porta e o motorista abre. Trocam palavras sem qualquer gesto que, à distância, possa servir de indício. Dá seis tiros. Abre a porta se inclinando sobre o corpo ensangüentado ao volante. Desce, cospe, acende um cigarro e segue.
Testemunhas dizem haver um motivo mas não sabem apontar qual.

Corre pra pegar o ônibus que espera os minutos no ponto final. Bate à porta e entra medido de cima abaixo pela motorista que depois de algumas palavras o engole até os culhões. Ela ainda desvia o itinerário para deixa-lo na porta de casa.

Entrou no ônibus, 3 da manhã, parado no ponto final onde nunca tinha ido. Demorou alguns minutos pra reconhecer [vasculhando a memória] o amigo de infância sentado na direção. Conversaram por horas no boteco ali perto e o ônibus não partiu.

Entrou no ônibus e lembrou que tinha esquecido a sacola no restaurante. Quando voltou o ônibus não estava mais lá.
Bz

30.5.07

Sebastião Salgado. Vitória, 2006

28.5.07

Vila Velha, 2006

˙ele já rejeitou ofertas de começar planos˙
Das frases que fora de contexto ficam melhores.

24.5.07

Porcos, lavagem, doentes, lama até os joelhos, certidões, uma senhora caiu por fadiga. Foi acudida a tempo de não morreu afogada. Escutava atentamente e anotava no caderno já molhado pelas gotas pastosas vindas do teto sustentado pelas últimos caibros que resistiam à umidade e aos cupins. Estalava e balançava a única luz da repartição, meio esverdeada, criando um ambiente propício a um suicídio. Vi quando cada carrapato desceu do cabelo para o denso e empapado buço da funcionária enquanto esta repetia automaticamente a relação das tarefas a serem cumpridas. Sílabas despejadas ao ritmo das carimbadas na pilha de papéis que a encobria parcialmente. Calculei os meses necessários para que tudo fosse providenciado. Chegaria a doze anos. Cheiro pútrido e a janela não abria. Mais uma vez à rua. Já madrugada. Teria que ir para outra fila. Dois dias. Tempo para reler o livro pela terceira vez. Algumas passagens tinham mesmo ficado nebulosas.
Bz
Vitória, 2006

Sálvio melhor juízo doravante,
Dessarte, datavênia, por suposto,
Por outro lado, maximé, isso posto,
Todavia deveras, não obstante

Pelo presente, atenciosamente,
Pede deferimento sobretudo,
Nestes termos quiçá, aliás, contudo
Cordialmente alhures entrementes

Sub-roga ao alvedrio ou outrossim
Amiúde nesse interim, senão
Mediante mormente, oxalá quão

Via de regra te-lo-ão enfim
Ipso facto outorgado, mas porém
Ver substabelecido assim, amém.

Soneto Burocrático do José Lino Grüneward.

23.5.07

São Paulo, 2006

Leitor compulsivo em dias de livro caro colava em leitores nos coletivos. Lia trechos de todo tipo de livro por cima dos ombros alheios. E opinava, certo de que não seria ignorado. Chamavam-no de subversivo, os letrados: ˙essa não é uma postura séria˙. E escutavam variações de um ˙sério como nunca falei nada na vida˙. Respondia com base em tudo que leu e era convincente. Desacreditavam. Do ponto em que fala quem tem a voz mais firme, logo se diventava um debate onde se tinha organizadas as intervenções sobre um ponto determinado pescado dentre os tantos da metralhadora giratória de argumentos que normalmente dava início ao debate. Entre palavrões, ofensas pessoais e citações de mães por ambas as partes, saia algo que poderia ser de fato discutível. O fio que os conduziria. E seguiam com o coletivo já dividido em contra e a favor. Argumentos fortes. Dizem que de um desses debates saiu um partido político. Hoje bem representado na Câmara. Analistas, com base nos depoimentos dos motoristas, especulam que aquele grupo radical também pode ter surgido daí.
Bz
O disléxico chegou ao céu, viu Deus e apavorado gritou:
OH, NO! DOG!!!
Do ˙Louise Bourgeois: Faço, Desfaço, Refaço˙, Denise Stoklos.

22.5.07

Vila Velha, 2002

D'O Engenheiro de Fábulas, Ivens Machado, no Museu Ferroviário Vale do Rio Doce, Vila Velha, ES.

20.5.07

Um dia depois do outro é uma indecência...é uma tripudiação. Quem disse que amanhã vai ser diferente?
Do ˙Quem disse que resisti 30 anos?˙ no ˙Fátima fez os pés para mostrar na choperia˙, Marcelo Marisola, ed. Estação Liberdade.

19.5.07

E ainda hoje - entre as paredes e sombras angulosas dos antigos edifícios erguidos sobre o chão da rua do mercado onde o corpo caiu inerte manchando de vermelho os melões - ecoa impregnada a agonia do grito.
Bz

Vitória, 2006

18.5.07

Vila Velha, 2005

Das de lá do Impublicável
Se é fato que
toda a massa do sistema
solar (somando a de Saturno e Marte
e Terra e Vênus e Urano e Mercúrio
e Plutão, mais
os satélites, mais
os asteróides, mais) equivale
apenas a 2% da massa
total do Sol e
que o Sol não é mais
que um mínimo ponto
de luz na estonteante tessitura de
gás e poeira da Via
Láctea e que a Via
Láctea é apenas uma
Entre bilhões de galáxias
que à velocidade de 300 mil km por segundo
voam e explodem
na noite

então pergunto:
o que faz aí
meu poema com seu
inaudível ruído?

E respondo:
Inaudível
Para quem esteja
Na galáxia NGC 5128
Ou na constelação
de Virgo ou mesmo
em Ganimedes
onde felizmente não estás,
Cláudia Ahimsa,
poeta e musa do planeta Terra.

Do Ferreira Gullar, Pergunta e resposta.

17.5.07

E Aderbal atirou duas vezes. Bem no meio do decote.
Do Nelson Rodrigues

16.5.07

Vila Velha, 2006

Não creio que o inquilino do sexto andar seja anti-fascista. É o fascismo que é anti-inquilino do sexto andar.
Do ˙Um dia muito especial˙ (Una giornata particolare), Ettore Scola.

15.5.07

Acorda para ir ao banheiro. Na volta, pensa ˙- agora vou dormir de bruços˙. Deita e o despertador toca.
Das pequenas derrotas diárias.

14.5.07

Roma, 2007

Dos auto-retratos.

13.5.07

É um coitado – diziam os transeuntes que oravam em louvor a Nossa Senhora da Esquiva, protetora dos chuviscos, das transmissões com caráter experimental e do canal 37-UHF da TV Joaçaba Ltda.
Do ˙Taradinho˙ no ˙Fátima fez os pés para mostrar na choperia˙, Marcelo Marisola, ed. Estação Liberdade.

12.5.07

São Paulo, 2006

Dono do hotel, nas madrugadas pega a chave mestra, entra nos quartos na ponta dos pés, senta-se à cabeceira das camas dos hóspedes e, aos poucos, vai soltando palavras ao esmo nos ouvidos dos corpos que dormem. Não raro, tem como resposta frases e devaneios vindos direto do mundo dos sonhos. Anota atentamente cada detalhe em seu caderninho.
Bz

11.5.07

Ele cantou o joão-ninguém, nem velho nem moço, que vive sem ter vintém, mas vive a fumar charuto e nunca teve opinião. Num dos poemas mais líricos da poesia brasileira (˙Três Apitos˙), ele lembra a fábrica de tecidos instalada em sua Vila Isabel: ˙Você que atende ao apito de uma chaminé de barro porque não atende... [à] buzina do meu carro; quando a fábrica apita, faz reclame de você˙.

˙Último Desejo˙ tem uma jóia que lembra Manuel Bandeira: ˙Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não presto, que meu lar é um botequim, que eu arruinei sua vida, que eu não mereço a comida que você pagou pra mim˙. Ou esta outra jóia: ˙Não posso mudar minha massa de sangue, você pode crer, palmeira do mangue não vive na areia de Copacabana˙.

Hoje, Noel Rosa é reconhecido como um dos maiores compositores de todos os tempos, mas seu público não está nos escalões mais populares. É um autor erudito, consumido e interpretado pelas cultas gentes. O povão que se encantava com sua música e versos nos anos 30 mudou de gosto, absorvendo a produção heterogênea e paradoxalmente monótona de novos temas e ritmos.

Trecho do Cony, na Folha, sobre os 70 anos da morte do Noel.
Vitória, 2006

Reeditando uma pesquisa interativa feita pelo capitão Oswald Andrade ainda no segundo número no periódico paulista ˙O Homem do Povo˙, lá pelos idos de 1931, o Xico Sá, amigo do Fred 04 e blogueiro do Nomínimo, estampou: ˙Quem é o maior bandido vivo do Brasil?˙ Em ambas disparado ganharam os políticos, certo.
Antes ainda, há 90 anos, o Monteiro Lobato, pai do Pedrinho e da Cuca [O Pedrinho e a Cuca são irmãos!!!], explorou os leitores pedindo que descrevessem o comportamento e as características físicas do Saci. Segundo a Márcia Camargos [conhece tanto o Lobato que parece amiga] essa foi a pioneira das pesquisas interativas no Brasil. Com base nas respostas de leitores do Estadinho, vespertino do Estadão que existia na época, escreveu ˙O Saci Pererê: Resultado de um Inquérito˙, seu livro de estréia, não assinado.
Podem ter sido as duas últimas pesquisas interativas que tenham valido o esforço de articular algumas frases para uma resposta. Basta uma volta na internet para comprovar.

10.5.07

Olha para o reflexo e não vê seu rosto, encoberto pela sombra. De costas para o velho e manchado espelho sente o sol queimar a face. Segue entre não se ver e estar visível.
Bz

Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, 2005

Dos auto-retratos.

9.5.07

Até agora, a viagem de Bento XVI custou ao Brasil pelo menos R$ 20 milhões. Luxo causa mal-estar na Igreja
Do Estadão

[A vinda do número 1 tem a atenção dividida com as] novas 60 TVs de plasma da Basílica de Aparecida, o cálice em ouro, prata e bronze de R$ 3.500 da missa no Campo de Marte, as toalhas e os lençóis de marca bordados para Bento, a garrafa de vinho de R$ 350 no almoço papal, a cozinha do mosteiro que funcionará durante as 24 horas do dia para a comitiva do Vaticano, e as mais de 400 peças de porcelana francesa feitas exclusivamente para o visitante ilustre.

Dispara também o Bispo: ˙Tanta comida, tanta bebida, tanta renda, tanto luxo... Isso tudo é um contratestemunho. Vai contra o testemunho de Jesus Cristo, que nunca se deixou tratar como rei. Quando entrou num palácio, foi para ser chicoteado˙. D. Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás e conselheiro da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Do Ricardo Westin, no Estadão.

De costas para o Futuro
Da Carta Capital

A grande maioria dos fiéis já não ouve a voz de Bento XVI, que, voltado para o passado, ignora as aflições causadas pelos problemas práticos da sociedade moderna. 86% não concordam com a proibição ao uso da camisinha e 51% são contra a condenação do ao aborto em qualquer circunstância, como quer a igreja. Da capa da Carta Capital.

A maior nação católica do mundo˙ que o alemão Ratzinger encontrará agora é bem diferente do visitado pela primeira vez pelo polonês Karol Wojtyla em 1980. Os brasileiros são menos católicos e aumentaram as divergências da população com a cúpula da Igreja em relação a temas controversos, como o aborto.
Da Paula Pacheco, na Carta Capital

Presença irreal
Da Folha

[...] à medida que declina a crença no inferno, o poder das condenações doutrinárias ao sexo ou ao consumo tende a recalcar-se em uma gaveta longínqua do inconsciente. O que não significa, por certo, que todo passado pessoal e histórico de repressão ao sexo tenha se dissolvido no ar. Medo e culpa nessas questões fazem ainda parte de nossa cultura, e essas coisas não mudam rapidamente.

É nisso que o conservadorismo do papa acaba desempenhando um papel positivo. Sua clamorosa inatualidade serve para atrair, como um ímã, todas as pequenas aparas de ferro que ainda nos prendiam a um mundo de obscurantismo e repressão. Ficam com ele, e não conosco, o absurdo, o medo, o dogma e a culpa. Ele nos deixa mais leves, quanto mais pesado o seu passo. [...]

Do alto de uma estrutura burocrática, centralizada e gigantesca, o papa adquire uma presença menos efetiva, mais simbólica e irreal.
Do Marcelo Coelho, na Folha.
Vende-se
Raça caucasiana 1/4 sangue. Dentição perfeita, 34 anos, 1,75m, 80kg, vacinado. Pouca despesa. Ideal para companhia e pequenos reparos domésticos. Tratar aqui. Facilitamos.

8.5.07

Das de lá do Impublicável
Tudo massa disforme e pútrida, ainda movendo-se sobre e sob a respiração que parece desaparecer, assim, devagar, bem devagar. Envoltos em fita crepe, sob carne macerada que expõe ossos partidos, tutanos, artérias e tendões e alguns dentes arrancados, há sonhos que nunca se realizarão e outros que, realizados, se perderão na decomposição da matéria e repousarão, carbono e fósforo e potássio e cálcio, na frialdade inorgânica da terra; prazeres que nunca serão gratificados, gozos que não serão gozados, sêmen que apodrecerá na origem; medos que não terão mais razão de existir, pois a escuridão adentrou definitivamente o espírito...
D˙Os anjos˙, Leonardo Almeida Filho, no
pd-literatura.com.br/contar/mai.htm#la.filho

7.5.07

Reparem no que escreveu há uma semana, em artigo para a Folha, o sr. Caetano Lagrasta Neto, de 63 anos, nada mais nada menos do que um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo: ˙O Estado não só vigia como pune, principalmente negros, putas, pobres, mesmo que o produto do crime se mostre reles e desde que estes agentes apodreçam nas prisões pelo furto de um xampu ou de algumas cebolas, enquanto aqueles (referência à elite) acabam libertos, logo depois - coisas, aliás, admitidas como edificantes exemplos.˙
Do ponteaereasp.nominimo.com.br, por Xico Sá.
Vitória, 2003

Numa aldeia da Escócia vendem-se livros com uma página em branco perdida em algum lugar do volume. Se o leitor desembocar nessa página ao soarem as três da tarde, morre.

Na praça do Quirinal, em Roma, há um lugar conhecido pelos iniciados até o século XIX e do qual, em noites de lua cheia, vêem-se mexer lentamente as estátuas dos Dioscuros que lutam com seus cavalos empinados.

Em Amalfi, no fim da zona costeira, há um dique que penetra pelo mar e pela noite. Ouve-se um cão latir para além do último farol.

Um trecho do ˙Instruções-exemplos sobre a forma de sentir medo˙.
Do Histórias de Cronópios e de Famas, Julio Cortázar
Após lavar bem os jilós fazer um corte em cruz nas extremidades aproximadamente 1 cm, afogar o alho com a cebola, pimentão e sal, acrescentar os jilós e água até cobrí-los, deixar cozinhar, espetar com garfo para verificar o cozimento. É muito saboroso e não amarga.
Do chefonline.com.br

6.5.07

Casa do Rojão, Serra, 2006

Subimos a serra de Santos cheirando merda de criança. Minha senhora (reparem no ˙minha Senhora˙ O que é isso? Deboche, cansaço? Desdém? Sarcasmo, sei lá.) recém-acendeu o cigarro de baixo teores. A fumaça corta um pouco o cheiro da merda e dá uma pontinha de tesão ao sair de fininho pelo quebra-vento...As crianças choram. Ela acende outro cigarro. As crianças enjoam. Meu saco na ˙zorba˙. O carro fede merda e as fraldas...onde estão as fraldas? Antes que ela fale ˙esquecemos na casa da mamãe˙ O Diego está assado. Eu não queria este nome. A mãe disse para não se afastarem dos adultos... Porque eu nunca havia reparado nos pés da minha senhora. Poderia ter evitado tudo...
Do ˙Adeus Rua Butantã˙ no ˙Fátima fez os pés para mostrar na choperia˙, Marcelo Marisola, ed. Estação Liberdade.

5.5.07

Guarapari, 2005

Dizem que precisa reduzir o CO². O Paulinho da Força diz que discutir ecologia era coisa de veado. A Royal diz que vai aproveitar a rejeição do Sarkosy que diz que política não se faz com sorriso. O Evo, dono da bola, diz ˙agora vai!˙. O Macaco Simão diz que a Bolívia corre o risco de exportar a coca sem gaz.

O outro aqui diz que não tem nada que possa ser feito. O rei Roberto diz que não quer livro. Deixa o Paulo Coelho chocado com a ˙atitude infantil˙, o autor chorando e o juiz sorrindo. Diz o David Lynch que acabaria a violência se todos meditassem.

Homem Aranha diz que está mais maduro e que não quer terminar como o Batman. O jornal diz que está na moda beber cervejas a R$ 60. O Silva diz que com esse dinheiro paga a conta no boteco do Batuta que se diz satisfeito ao ouvir isso. O Bezerra diz que o corrupto é o malandro moderno. O Bento diz que as missas devem ser rezadas em latim.

Dizem que o Otávio Frias não deveria ser chamado de 'publisher' mas de 'dono de jornal'. O sol diz que esse ano vem. O Tom Zé diz que querem separar o prazer carnal do amor. Vassil Ivanov diz que sentiu falta dos amigos por isso voltou para a prisão búlgara de onde havia fugido na páscoa.
BZ

4.5.07

Paraty, 2006

Em alguns livros do René Burri, principalmente nos de retrospectiva, está lá um retrato que ele fez do Cartier-Bresson. Na cena, o Bresson está debruçado para fora da janela do escritório da Magnum, em Nova York. Depois de ter fotografado alguma coisa na rua [pode ter sido um ˙momento decisivo˙ passando ligeiro], olhou para a câmera que o flagrava. Muitos motivos pra esta ser uma imagem importante. O personagem é importante [já era na época da foto]. O fotógrafo é importante [puta fotógrafo, diria o paulista]. Foi feita logo depois da reunião que incluiu o Burri na equipe da agência, ou seja, ocasião importante. E outra, o fotografado era, diz a lenda, avesso às câmeras. Tudo importante. Muito importante. Essa fotografia do Burri é mesmo bem importante. Por outro lado, nada garante que o Bresson tenha feito uma grande foto. Os fotogramas podem estar esquecidos nos arquivos da fundação.

3.5.07

Um senhor está pondo pasta de dentes na escova. De repente, vê, deitada de costas, uma diminuta imagem de mulher, feita de coral ou talvez de miolo de pão pintado.

Ao abrir o armário para apanhar uma camisa, cai um antigo calendário que se desmancha, se desfolha, cobre a roupa-branca com milhares de sujas traças de papel.

Um trecho do ˙Instruções-exemplos sobre a forma de sentir medo˙.
Do Histórias de Cronópios e de Famas, Julio Cortázar

2.5.07

São Paulo, 2006

Na Budapeste do fim dos anos 20, quando Capa estava na universidade e disposto a se tornar jornalista, havia 12 jornais matutinos e 7 vespertinos.
A célebre fotografia do miliciano da guerra civil espanhola atingido por um tiro foi feita no dia 5 de setembro de 1936 e publicada na revista Vu em 23 de setembro, ou seja, 18 dias depois.
Da antologia do Robert Capa.

1.5.07

O blog nasceu no dia da mentira e comemora seu aniversário de um mês hoje, dia do trabalho. [Descontando a barra forçada,] bela e sugestiva relação.

Vitória, 2005

Pontos a serem observados ao iniciar a abertura de um cadeado usando a força das mãos: conheça previamente seu mecanismo de funcionamento. Esteja bem alimentado e desmarque outros compromissos. Se optar pela reza, execute-a conjuntamente a uma ação mais direcionada. Não use música suave nem pense em coisas boas. Em caso de preferir esperar, lembre-se que o ferro leva vantagem sobre a carne. Às vias de fato: A mão esquerda segura firme o corpo onde entra a chave. A outra puxa a argola em sentido contrário. Com movimentos repetitivos e ininterruptos procure criar tensão onde as duas extremidades da argola se fixam. A operação será mais eficiente se executada junto ao peito e com os dentes à mostra. Caso seja canhoto, inverta a posição das mãos.
BZ