21.6.07

FERNANDO FARO - Li uma vez, acho que foi Marshall McLuhan [teórico dos meios de comunicação], que a gente tem que ter cuidado com a informação e com o ruído da informação. O apresentador é um ruído enorme, um barulho enorme numa entrevista. Resolvi fazer isso depois de uma entrevista, em 1959, com um bandido chamado Jorginho. Eu estava no telejornal da TV Paulista quando o Jorginho foi preso. Fui na delegacia entrevistá-lo. Disseram: ˙Você não pode entrar na cela˙. Dei o microfone para o Jorginho e fiquei do lado de fora, com o gravador. E comecei a perguntar várias coisas. Peguei o material, que tinha apenas as respostas dele, e editei. Gostei daquilo. E comecei a fazer tudo com esse formato, só com o entrevistado falando.

FARO - A idéia dos closes também veio do McLuhan. Ele dizia que uma [tomada] geral de televisão é só uma imagem. Você não vê nada. Você comprova isso em um jogo de futebol: você não sabe como é a cara dos jogadores. Aí eu disse: "A solução é o close e o meio-close". Eu lembrava também que Picasso usava close e meio-close.

FARO - Gravei programa com o Vinicius de Moraes, o Martinho da Vila, que foi um escândalo. Tinha acabado de fazer com o Vinicius. Quando disse que ia fazer programa com o Martinho, os caras começaram a virar a cara. Mas o programa do Martinho deu uma barbaridade de audiência. O do Vinicius tinha dado 45, 48 pontos. O do Martinho deu uns 60. Naquele tempo [meados dos anos 70], colocava-se muito acadêmico na TV. Eu coloquei gente da rua. Depois que deu audiência, todo mundo se acalmou.

FARO - Fiz os festivais da Tupi, pois fui o diretor musical da TV de 1968 a 1972. Uma vez chegou alguém e disse: ˙O general mandou te chamar˙. O general era o encarregado da censura. Num programa, o ˙Móbile˙, eu coloquei uma água-viva, sem texto, sem nada, e uma mão jogando sal, que dissolvia a água-viva. Disse: ˙General, não tinha texto, não tinha música˙. E ele: ˙É, mas a gente te conhece. Você estava querendo dizer que a água-viva é o povo, e o sal é o governo que esmaga as pessoas˙.

FARO - Sempre me preocupei com o tamanho deste país. Sou de Sergipe. Tinha coisas lá que o país todo tinha de saber. A TV pública deve cobrir as manifestações [culturais] que acontecem no país. São regiões heterogêneas, multiculturais, cada uma tem coisas para mostrar.

FARO - Uma vez eu cheguei pro Briamonte, que foi o primeiro maestro do Eduardo Gudin, para fazer um arranjo. Disse: ˙Bria, é o seguinte: você está deitado, dormindo, aí acorda e uma escola de samba vem passando. Ela vem descendo, passa e vai embora˙. Ele me disse: ˙Nunca vi ninguém fazer arranjo com uma imagem˙.

FARO - O Chico Buarque era muito tímido. Ele não olhava para a câmera. Diziam que ele tinha olhos bonitos, então botei a câmera no chão. O Chico não falava. O Milton era igual.

FARO - Tem duas pessoas que eu queria levar ao programa e não levei. Uma é a Hebe Camargo. Um tempo atrás estive com ela e disse: ˙E o programa?˙. ˙Não vai dar para fazer, eu estou velha, não vou agüentar aqueles closes.˙ Eu disse que fazia do jeito que ela quisesse, não precisava dos closes.
A segunda é a Rita Lee. Não levei porque não falei com ela, quero falar. No tempo em que eu fiz o programa ˙Divino Maravilhoso˙, uma vez nós fomos para o Rio com os Mutantes. E aí ficamos amigos. Mas de lá para cá nunca mais falei com ela.

FARO - A Elis viveu em minha casa um tempo. Ela sempre foi assim, estava conversando com você e de repente ficava vesga se não gostava de algo. Uma vez foi um cara lá em casa me vender um carro. Ela ficou olhando e começou a ficar vesga. Aí eu cheguei e falei pro cara: ˙A gente conversa outra hora˙. Cheguei pra Elis e perguntei o que houve. Ela: ˙Pô, você não viu a aura desse cara, ele não presta˙.

Da entrevista do super-herói na Folha de ontem sobre a comemoração hoje dos seus 80 anos.

1 comment:

Anonymous said...

como se não bastasse publicidade por todo canto. agora essa.