29.4.07

Vitória, 2006

Sabe-se de um caixeiro viajante que começou a sentir dor no pulso esquerdo, justo debaixo do relógio de pulso. Ao arrancar o relógio, o sangue jorrou: a ferida mostrava os sinais de uns dentes muito finos.

O médico acaba de nos examinar e nos tranquiliza. Sua voz grave e cordial precede os remédios, cuja receita ele escreve agora sentado à mesa. De vez em quando levanta a cabeça e sorri, animando-nos. Não é nada de mais e daqui a uma semana estaremos passando bem. nos refestelamos no sofá, felizes, e olhamos distraidamente em volta. De repente, na penumbra debaixo da mesa, vemos as pernas do médico. Ele arregaçou as calças até as coxas e veste meias de mulher.

Ultimo trecho do ˙Instruções-exemplos sobre a forma de sentir medo˙.
Do Histórias de Cronópios e de Famas, Julio Cortázar

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